Pelo Corredor da Escola

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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Candidatos Questionam Correção da Redação do Enem


Definida a manutenção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como substituto da primeira fase do vestibular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a preocupação de alunos e professores agora é outra. Estão inquietos porque a redação que valerá no processo seletivo é a da avaliação nacional, em vez da prova aplicada pela Comissão do Vestibular (Covest), como ocorreu em 2009. Relatos de vestibulandos que tiraram boas notas, apesar de terem escrito apenas um ou dois parágrafos, põem em xeque a qualidade da correção dos textos avaliados pela equipe contratada pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), da Universidade de Brasília (UnB), responsável pela aplicação do Enem. A dissertação da estudante Cynara Karolina Rodrigues, 18 anos, é um exemplo. Ela só redigiu a introdução. Foram sete linhas, tamanho mínimo exigido para que o texto fosse corrigido. Ao conferir as notas do Enem, a surpresa: 653,4 na redação. “Escrevi às pressas, no final do tempo permitido. Como meu interesse era a UFPE, que não usaria a redação do Enem, optei por me concentrar nas 90 questões das provas de português e matemática”, relata Cynara. “Questiono a real confiabilidade da banca corretora e quais os verdadeiros parâmetros de avaliação. Por mim, a UFPE deveria manter a redação aplicada pela Covest”, diz a vestibulanda, que tentará, pela segunda vez, vaga em medicina. Na UFPE, como levou ponto de corte, ela não teve a redação corrigida. Igualmente concorrente de medicina, Lais Weinstein, 21, também se surpreendeu com a nota na redação do Enem, 875. “Meu texto foi um desastre, um lixo. Escrevi em cinco minutos, sem passar pelo rascunho. Rasurei muito, a letra ficou ilegível e o texto não tinha boa estrutura. Não merecia de jeito nenhum esta nota. Achava que levaria zero”, afirma Lais. A boa nota contribuiu para que conquistasse vaga em medicina na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, no Sertão do Estado, que adotou apenas o Enem como vestibular. Como passou na segunda entrada, ela tem dúvida se vai assumir o curso. Tanto que está matriculada em cursinho pré-vestibular, no Recife, porque pretende tentar novamente medicina na UFPE. “Minha preocupação é que a má correção da redação no Enem me ajudou na Univasf, mas pode me prejudicar na UFPE”, observa Lais. Com exceção do grupo 9, os outros oito grupos do vestibular da UFPE têm redação como disciplina de maior peso na segunda fase da seleção. É um teste decisivo para conquista da vaga. No atual formato de distribuição de pontos, quase um terço da pontuação nessa etapa é obtida com a redação. Para os candidatos do grupo 1 (administração, hotelaria e economia), a nota vale ainda mais, 40% da média final. “A Federal não pode abrir mão da autonomia de aplicar a redação. Na maioria das vezes, sobretudo em cursos concorridos, como medicina, é a nota da redação que define quem passa no vestibular. Com tantos problemas no último Enem, a universidade deveria ter mantido a redação sob sua responsabilidade”, defende a professora Renata Pimentel, que mantem cursinho com a professora Flávia Suassuna. A seriedade da Covest na correção das dissertações é elogiada pelos docentes. Os critérios de correção adotados pelo Cespe também. A queixa, no caso do centro da UnB, é se esses critérios foram realmente aplicados. “Os critérios são interessantes. Teoricamente, parecem ótimos. Mas questiono se, na prática, foram pontuados como deveria. Na Covest, sabemos o que esperar dos corretores. No Cespe, não”, destaca Fernanda Pessoa, também professora de redação de cursinho e dos Colégios Salesiano e Único. A inclusão da nota da redação do Enem no vestibular da UFPE não foi discutida na última reunião do Conselho Universitário, realizada nove dias atrás. O grupo apenas aprovou a manutenção do exame nacional como primeira fase do vestibular. Mas no entendimento do reitor Amaro Lins, como o Enem contempla a redação, devem ser aproveitadas todas as notas. Falta agora definir como será a distribuição dos pontos, porque segundo a pró-reitora acadêmica, Ana Cabral, a nota da redação passará a valer na primeira fase e não mais na segunda. CORREÇÃO - Para ser corretor do Enem, era necessário, segundo o Cespe, ter formação em língua portuguesa e experiência comprovada em sala de aula ou com mestrado e doutorado. O problema foi atrair gente qualificada para a tarefa, diante da baixa remuneração: apenas R$ 1 por texto corrigido (a Covest pagou, ano passado, R$ 3,40 por redação avaliada). O período de trabalho também não ajudou muito: um intervalo de menos de um mês, entre 15 de dezembro do ano passado e 15 de janeiro deste ano (com Natal e Ano Novo no meio). Os professores realizaram a correção online. Recebiam 100 textos por vez. Só chegava um novo envelope quando acabavam o anterior. Na Covest, a correção é presencial, embora os textos sejam digitalizados. Os professores ficam confinados, sem qualquer contato com outras pessoas, durante a correção.(Jornal do Commercio).


(Clipping 27.04.2010 - Portal Aprendiz, 26/04/2010 - Candidatos questionam correção da redação do Enem)

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